Tenho saudades do que nunca tive, mas se nunca tive como posso ter saudades? É injusto dizer que nunca fui tão feliz como sonhava ser? Já fui feliz, mas não tanto quanto quis, tanto quanto quero ser. O que resta de mim é apenas isso, sonhos... sonhos que acabarão por secar como um rio inexistente no deserto. Tantas pedras no caminho e eu sem mãos para pegar nelas e criar uma muralha mais forte do que aquela que crio emocionalmente a cada dia que passa. Sou um monstro com coração de gelo mas que chora todos os dias por um pingo de carinho, uma bicha solitária com fome do que nunca provou mas quer saciar. Vou, não vou? Faço, não faço? Quero, não quero? Nunca quero o que tenho, mas se não tiver, eu vou querer, assim como o meu cabelo, imensas vezes estico os meus caracóis, mas liso já é chato para o dia a dia. O que se pode fazer a tamanha indecisão? Mais olhos que barriga é o que tenho. Quero isto e aquilo, mas deixo de querer sem entender porquê se quis ter, tive e não quis. Quero o amor de alguém, mas não é suficiente, vou deixar de querer porque não era isso que realmente queria. Vou ter saudades tuas que nunca estiveste na minha vida, mas quando estiveres, vou dizer adeus sem pensar duas vezes. Pior que uma criança que quer um brinquedo é eu querer que brinquem com os meus sentimentos, sendo eu contra tal e idiota o suficiente para deixar que aconteça o que nunca quis. Rastejante como uma lagarta, ando eu à procura do pequeno enquanto tenho o grande e fecho os olhos como o pior cego que não quer ver o que tem à sua frente. De que vale grande se posso ter o fácil e pequeno? De que vale esperar por algo que valha a pena, quando tenho mil aventuras que me congelam o coração a cada chama acendida? Tenho saudades do coração que nunca tive mas que mantenho dentro do peito. Saudades de ser o que sempre fui mas nunca quis ser porque não é fácil lutar por grande sendo eu pequena em fome de saudade.